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Esse é um tema que certamente tenho mais  perguntas do que respostas. Na verdade, tenho mais outros tantos questionamentos a respeito. Mas a reflexão me veio depois de participar virtualmente do encontro “Conversa com Lideranças sobre o Agora e o Amanhã”, capitaneado pela Marsh. O convite partiu do Instituto Ethos – o qual a Turismo 360 Consultoria se tornou afiliada recentemente – e foi uma oportunidade de dialogar com especialistas e líderes empresariais sobre os riscos apontados pelo Relatório de Riscos Globais 2023 e quais são as melhores estratégias para enfrentá-los.

Para seguir com a minha reflexão, já sugiro enriquecer a leitura baixando posteriormente esse documento que tem as versões completa e resumida (é só clicar para ter acesso). Considerado uma das principais fontes de informação sobre o ambiente de risco atual e emergente, a 18ª edição do Relatório de Riscos Globais foi desenvolvido pela Marsh em colaboração com o Fórum Econômico Mundial.  

Depois de ouvir mais de 1,2 mil líderes acadêmicos, empresariais e governamentais, a publicação fornece informações detalhadas sobre as prioridades dessas pessoas diante dos riscos e tendências nos próximos anos. A proposta é que esse relatório seja um recurso para ajudar, entender e planejar o que está por vir. Considerando isso, ao longo do evento foram abordados cinco riscos para os próximos dois anos e cinco riscos para os próximos 10, considerando cinco categorias: riscos econômicos, geopolíticos, ambientais, tecnológicos e sociais. 

As lideranças participantes do bate-papo – Caio Magri, diretor-presidente do Instituto Ethos; Andrea Alvares, associada curadora e conselheira do Instituto Ethos; Eduardo Marchiori, presidente da Mercer Brasil; Eugenio Paschoal, CEO da Marsh McLennan Brasil e Presidente Marsh Brasil; Pedro Farme, CEO da Guy Carpenter Brasil – trabalharam com mais intensidade a questão das mudanças climáticas e mostraram que elas significam risco desde 2011. Então, estão sempre ali vigentes, mas nunca são prioridade porque sempre tem alguma coisa mais prioritária. 

Nessa dinâmica de prioridades, se você analisar o relatório, verá que nos próximos dois anos crises socioeconômicas e desastres naturais sobrepõem a questão climática, que nesta altura é trabalhada no relatório como falha na mitigação das mudanças climáticas (apesar dos desastres naturais também poderem ser consequências de tais mudanças). Mas aparecem as urgências a serem resolvidas, uma vez que problemas centrais não foram estruturados e solucionados antes. Com isso, se acentuam ainda mais problemas como a desigualdade social, a falta de equidade de gênero e todas as outras questões relacionadas. 

E como fica o turismo diante desse cenário?

Se a gente for olhar a questão das emergências climáticas, dos desastres naturais, podemos tomar como exemplo o evento climático extremo de temporal que atingiu no último fevereiro o litoral norte de São Paulo. Já atuamos localmente como a empresa responsável pela elaboração do Plano Municipal de Turismo de Ubatuba, em 2022, o que foi importante para nortear e alinhar as ações realizadas em prol da melhora e desenvolvimento do turismo no município,  ligado às questões relacionadas aos riscos globais, desenvolvendo de forma colaborativa e integrada à prefeitura e secretaria de turismo, mas também ao Conselho Municipal de Turismo, empreendedores do setor e à comunidade local. 

Tal fato se reflete na visão de futuro construída para o Plano Municipal de Turismo de Ubatuba: “Ser reconhecido como um destino que tem como essência um espaço de aprendizado e transformações positivas, através da adoção de práticas regenerativas por parte de todos os atores envolvidos com o turismo, garantindo experiências turísticas que valorizem o contato respeitoso com as comunidades tradicionais, a história e riqueza de saberes locais, a conservação e a educação ambiental, bem como a qualidade de vida de sua população“.

No caso do temporal, São Sebastião – que inclui os distritos de São Sebastião, São Francisco da Praia e Maresias – foi o mais atingido. Em um único dia foram 600 litros de água para cada metro quadrado, segundo a Defesa Civil estadual, provocados por um choque de umidade e calor vindos da região amazônica com frente fria na Serra do Mar. Mas penso: como o turismo e outras atividades podem apoiar na mitigação das mudanças climáticas para não termos cenários tão desastrosos? Ou como podemos apoiar na preparação das comunidades turísticas para esse tipo de evento? 

As pessoas foram totalmente pegas de surpresa. Não havia nada preparado para aquele volume de chuva em um território eminentemente turístico. Sendo assim, o Brasil sofre ambiental e socialmente por conta dessas mudanças, em especial por conta das comunidades atingidas. Economicamente, pelos investimentos públicos, pelo turismo, entre outros fatores, porque são territórios fragilizados onde há essa possibilidade de acontecer esse tipo de emergência climática. 

Em paralelo, há 12 anos, uma pesquisa publicada pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) já analisava o impacto das mudanças climáticas no Litoral Norte de São Paulo. Por causa do aquecimento global, a maré baixa vem se elevando a uma taxa de 70 centímetros por século, de acordo com dados das últimas décadas. O que esperar para o futuro? De que forma o turismo pode contribuir?

Penso em como, sendo uma consultoria que tem o propósito de desenvolver em conjunto com as comunidades locais o turismo nos destinos de maneira sustentável, a Turismo 360 pode contribuir para que esses riscos sejam “menos desastrosos”, se assim posso dizer. Trabalhamos constantemente para o fortalecimento do senso de responsabilidade coletiva para melhor apropriação dos benefícios econômicos, sociais e ambientais. E, dentro disso, acredito, sim, ser possível prever, planejar ações e, sobretudo, recuperar danos de maneira mais rápida e assertiva, ou torná-los menos danosos diante desse senso de coletividade. 

Concluo essa reflexão da mesma forma que iniciei: sem respostas concretas, mas com anseio de trazer à superfície esse tema ao longo dos próximos projetos de desenvolvimento turístico. Convido você, e a quem a nossa consultoria possa contribuir, para pensarmos em soluções conjuntas. 

Por Marcela Pimenta