O conceito de Destinos Turísticos Inteligentes (DTIs) começou a ser abordado na literatura acadêmica, institucional e empresarial em 2012, ocasião em que o Ministério da Indústria, Comércio e Turismo da Espanha decidiu iniciar uma mudança no modelo turístico do país. Os pilares dessa mudança foram os conceitos de inovação, tecnologia, sustentabilidade e acessibilidade.
No ano seguinte, em 2013, a Secretaria de Estado de Turismo da Espanha (SEGITTUR), vinculada a este mesmo Ministério e a Asociación Española de Normalización y Certificación (AENOR) conceituaram DTI como:
“Um espaço turístico inovador, acessível para todos, consolidado sobre uma infraestrutura tecnológica de vanguarda que garanta o desenvolvimento sustentável do território, facilite a interação e a integração do visitante com o entorno e incremente a qualidade de sua experiência no destino e a qualidade de vida dos residentes”, em tradução livre.
Práticas de Destinos Turísticos Inteligentes no território brasileiro
No Brasil, o tema está sendo trabalhado principalmente pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pelo Ministério do Turismo (MTur), por meio de diferentes iniciativas. As duas instituições buscam, por meio de municípios turísticos selecionados, implementar a estratégia de maneira piloto. E, apesar das diferenças metodológicas, nota-se que a Governança é um eixo chave que aparece em ambas as propostas.
Para o Sebrae, a atuação focada na Governança deve promover o empoderamento e o fortalecimento das lideranças empresariais para a gestão compartilhada. Já o MTur reforça que “o governo local deve ser capaz de gerar confiança, gerir os bens públicos com legitimidade e governar com a participação efetiva dos atores estratégicos”.
De forma ampla, o conceito de governança é usado para se referir às várias maneiras pelas quais atores públicos e privados, de forma integrada, produzem políticas para lidar com questões relacionadas ao desenvolvimento de um determinado território (Oxford, 2016). É, muitas vezes, vista como um instrumento para fomentar a colaboração, melhorar processos e relações institucionais e tornar o território mais competitivo.
Para que uma governança tenha a sua atuação efetiva, é necessário que se estabeleçam algumas premissas fundamentais, como a transparência nos processos, a legitimidade dos representantes e a confiança mútua entre os atores envolvidos.
Destaca-se também que os Destinos Turísticos Inteligentes requerem uma governança inteligente, o que pressupõe a integração entre os diversos atores. Isso se dá não apenas no sentido da colaboração institucional-público-privada, mas também no estabelecimento e manutenção de fluxos de transferência de conhecimento e tecnologia para construção de uma inteligência coletiva e um ambiente de prosperidade para todos.
A importância da estratégia de gerenciamento de dados para DTI
A tabela abaixo retirada do “Smart Tourism visions and ambitions: emerging strategies and governance models” traz atributos-chave da estratégia de governança do turismo inteligente. O documento foi uma das referências bibliográficas da Turismo 360 Consultoria para o Benchmarking inspiracional e apoio técnico específico na elaboração do PLATUM Plano de Turismo da Cidade de São Paulo.
Destacamos aqui a estratégia de gerenciamento de dados, que permeia o nosso trabalho de diversas formas, em diferentes momentos e projetos.
Em parceria com o Sebrae, por exemplo, temos desenvolvido, desde 2023, conteúdos que estimulem as Governanças Turísticas a adotarem uma gestão por dados. As três principais entregas são: apresentação de cases de referência de destinos que adotam a gestão por dados; análise dos dados gerados pelo Diagnóstico de Maturidade dos Destinos Turísticos Inteligentes; e conteúdos com orientações para as Governanças Turísticas com base nesse diagnóstico.
Um dos cases de referências apresentados refere-se à iniciativa da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira de Alagoas (ABIH/AL), que realiza diferentes estudos e pesquisas sobre o setor turístico.
Em 2019, junto com a Secretaria de Turismo de Alagoas (SETUR/AL), a ABIH/AL implementou a plataforma DataTur, que reúne dados do turismo do estado e alguns recortes específicos da capital Maceió, como o valor arrecadado pelo ISS. Mais recentemente, também foi implementada a plataforma DataTur Connect com dados e acesso exclusivos dos associados da ABIH.
“A gestão eficaz de dados desempenha um papel crucial na governança turística, impulsionando a tomada de decisões e estratégias. Nesse contexto, a ferramenta Datatur, desenvolvida pela ABIH e disponível exclusivamente para associados, emerge como uma fonte valiosa de informações. Ao oferecer acesso a dados essenciais, como diária média, ocupação e contribuição de impostos para a cidade e o estado, o Datatur capacita os profissionais da hotelaria a entenderem melhor o mercado e a moldarem suas estratégias de negócios de acordo com as demandas do setor. Além disso, a utilização do Datatur não se limita apenas ao âmbito privado.
Ele também desempenha um papel crucial ao fornecer insights detalhados sobre o impacto econômico do turismo para o poder público. Ao demonstrar de forma concreta a contribuição do turismo para a economia local e regional, essa ferramenta fortalece o diálogo entre o setor privado e as autoridades governamentais, promovendo uma colaboração mais eficaz na formulação de políticas e no planejamento de desenvolvimento turístico sustentável. Assim, a gestão de dados através do Datatur não apenas capacita a hotelaria a otimizar suas operações, mas também ajuda a destacar a importância do turismo como um motor econômico para o destino”, explica Gabriel Cedrim, Presidente da ABIH/AL.
Esperamos que cases de sucesso como esse possam servir como inspiração para mais Destinos Turísticos Inteligentes e, mais do que isso, como comprovação da efetividade da estratégia de gerenciamento de dados pela governança.
Por Graziele Vilela