O turismo vive um momento bastante peculiar. Depois de um período de baixa circulação e demanda reprimida, as pessoas estão voltando a viajar. Este movimento tem causado resultados positivos no segmento: neste ano, a expectativa é de que o turismo nacional tenha um aumento de 16%.
Outro ponto relevante deste novo momento é o perfil das viagens, já que os destinos dentro do país têm sido prioridade na busca por viajantes brasileiros e brasileiras. E é aqui que entramos no nosso assunto principal deste texto: com tanta oferta de lugares diferentes, qual a fórmula mágica para encontrar os diferenciais turísticos da sua região?
Primeiro de tudo é que precisamos ter honestidade. Afinal, essa fórmula mágica não existe. Assim como acontece praticamente em todas as áreas de atuação, aqui também precisamos arregaçar as mangas e, com muito estudo, avaliações e pesquisas, colocar em prática nosso conhecimento para compreender os diferenciais turísticos de uma cidade ou região.
A partir de agora vamos listar alguns pontos que consideramos fundamentais para que você tenha sucesso nesta empreitada.
Encontrando a vocação turística
Este é um passo fundamental neste processo. Explicando de uma maneira bastante simplista, é necessário entender quem você é (no caso o destino), para saber quem é o turista em potencial e compreender como se comunicar com esta pessoa.
Pode ser considerado até um sistema parecido com a escolha de uma profissão, quando estamos para entrar na faculdade. Existem, inclusive, diversos testes vocacionais que podem auxiliar neste processo. No caso de um destino turístico, encontrar a vocação é fundamental para saber se a sua região tem vocação para ecoturismo, turismo cultural, turismo de negócios, turismo de aventura, entre outros.
Mas como fazer isso? Este olhar para dentro é fundamental para encontrar diferenciais turísticos e identificar a verdadeira vocação do seu território.
Vamos pegar como exemplo Maceió, cidade onde parte da nossa equipe vive. No caso da capital alagoana, é fácil identificar que a vocação principal do destino é o que conhecemos como sol e praia. É esta a primeira grande motivação de turistas: a praia e o mar paradisíacos estão lá, sem necessariamente precisar da intervenção de ninguém (o que não significa que por si só o turismo vai funcionar, mas veremos isso em um próximo tópico).
Em outras regiões, porém, os diferenciais turísticos não são tão claros como em cidades como Maceió e Foz do Iguaçu, por exemplo. É necessário um mergulho um pouco mais profundo, especialmente em temas vinculados a atrativos intangíveis: a história, a cultura, o passado que construiu a região como ela é hoje e que faz a comunidade local ter orgulho.
E aqui chegamos ao segundo tópico deste texto:
Conversas com a comunidade e fortalecimento da governança
Para entender verdadeiramente uma região, uma pesquisa no Google não é suficiente. Quando estamos falando de gestão e vocação turística, a melhor forma é a boa e velha conversa. Ouvir, entender, se interessar pelas pessoas da comunidade local – e isso vale até mesmo para quem nasceu na região.
Pela nossa experiência, é assim que o processo cresce mais forte e sustentável, com ganhos reais para todas as pessoas envolvidas no projeto. Encontrar os diferenciais turísticos de um território passa pelo ponto de vista cultural, como artesanato, música e qualquer tipo de manifestação que já exista.
Esse trabalho em conjunto é o fortalecimento da governança, seja por meio da criação de conselhos de turismo ou de associações que atuam em prol do segmento. Sempre lembrando: o coletivo precisa ter pessoas da comunidade, ao lado de poder público e empresariado. Mas o protagonismo precisa ser da população, ela precisa estar inserida, engajada e acreditando no processo.
Mais do que simplesmente ouvir, é fundamental entender a comunidade. É só entendendo e trabalhando em conjunto com as pessoas da região que será possível engajar a população para que ela pense “esse negócio de turismo é legal pra gente”.
O que desenvolve um destino turístico é engajar as pessoas. Sem esse engajamento, fica muito difícil desenvolver um turismo minimamente sustentável, que traga benefícios sociais, ambientais e econômicos para a comunidade.
Criar uma história vinda de fora para dentro da comunidade não se sustenta em longo prazo: é o que é conhecido como parafolclore, um rótulo pejorativo que em geral traduz atividades fake e que não contam uma história real. E que, muitas vezes, é percebido desta forma por turistas.
No turismo, é bom lembrar que existem papéis para todo mundo, até para quem não trabalha diretamente com uma atividade turística. Com os diferenciais definidos e a região recebendo mais pessoas de fora, atividades como padaria, farmácia e mercadinho também serão beneficiadas com esse fluxo – mais uma vez o turismo atuando como vetor de desenvolvimento econômico e social.
Só encontrar a vocação não basta para um diferencial turístico
Depois de muita dedicação, a vocação turística da sua região foi encontrada. Mas apenas isso basta para que o território tenha os diferenciais turísticos bem definidos e comece a receber pessoas de outras localidades?
É aí, na verdade, que começa um passo fundamental: estruturar a região para receber turistas. Para que o destino se torne cada vez mais atrativo e desejado, é preciso um conjunto de atributos que o viajante consiga ver. Gerar valor para gerar desejo.
O trabalho, neste ponto, precisa ser coletivo. A atuação conjunta do poder público com investimento privado, sempre com a participação da comunidade, é essencial para que o destino se desenvolva. Da parte pública, o investimento em infraestrutura e segurança; e os serviços oferecidos pela iniciativa privada, como lojas, restaurantes, hospedagens, entre outros.
É uma atuação que precisa ser feita de maneira unida, não tem como ser diferente. Desta forma, os diferenciais turísticos serão muito mais percebidos por quem de fato importa – o turista – e o nível de competitividade vai ser muito maior do que em destinos que trabalham de forma isolada.
O diálogo entre as partes, muitas vezes tão deixado de lado, é fundamental. E, como diz este texto da Karina Solha para o Turismo Spot, dois monólogos não formam um diálogo.
Metodologias para encontrar os diferenciais turísticos
Dá bastante trabalho, mas é extremamente prazeroso encontrar a vocação turística de um destino. Para isso, existem algumas metodologias que podem auxiliar e que podem ser aplicadas em um curto período de tempo.
– Diagnóstico do território: encontrar quais as características das empresas, como elas estão organizadas, quais são atrativos âncoras e quais não são, mas que têm potencial. O levantamento destas informações é importantíssimo para o entendimento dessa vocação turística, seja do ponto de vista natural, seja do ponto de vista empresarial.
Mais uma vez: este não é uma ação feita de forma isolada. Trabalhamos com planejamento participativo, trazendo as pessoas da comunidade local para dentro do processo: para que possam se apresentar, dizer o que enxergam como diferencial, com quem gostam de trabalhar, etc. É aí que o caminho começa a se apresentar.
– Planejamento: a construção do que vai ser trabalhado também tem que ser participativa. Quando se olha para gestão de destino não se pode olhar pra só um lado da história, tem que olhar para tudo que compõe. Um trabalho técnico tem que ter essa visão mais neutra: se ele é feito apenas para a comunidade e não conversa com poder público e iniciativa privada, dificilmente vai dar liga.
Esperamos que este texto tenha auxiliado a formar conexões na sua cabeça. E se tiver dúvidas ou sugestões, fale com a gente através dos contatos aqui do site ou pelas nossas redes sociais.