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Com sua extensa rede hidrográfica e rica biodiversidade aquática, o Brasil possui um enorme potencial para o desenvolvimento do turismo de pesca esportiva. A atividade, uma das mais praticadas no país, oferece aos turistas uma imersão na natureza, complementada pelas famosas histórias de pescadores sobre o imaginário popular, a paisagem e as aventuras vividas nos grandes rios brasileiros.

Para entender o potencial mercadológico dessa atividade, basta olhar para os Estados Unidos: estima-se que, anualmente, cerca de 40 milhões de adultos norte-americanos se envolvam em pesca sem finalidade comercial, totalizando 45 bilhões de dólares investidos na prática da pesca amadora — uma realidade ainda distante no Brasil. No entanto, o país já concentra mais de 25 milhões de pescadores amadores ocasionais.

A prática começou com força no Pantanal, mas hoje o turismo de pesca já é realidade de norte a sul do país, na Amazônia, no litoral e interior. Foto: divulgação

Pesca: raízes culturais e impacto socioeconômico

No Brasil, a pesca vai além de uma prática esportiva, estando profundamente enraizada na memória coletiva e influenciando diversas manifestações culturais. Ela desempenha um papel essencial no sustento de comunidades tradicionais em várias regiões, desde a Amazônia até o litoral, e inspira a literatura e a música popular. O turismo de pesca, assim, se torna um ativo valioso, com grande potencial para gerar benefícios econômicos e fortalecer a identidade cultural de comunidades afastadas dos grandes centros urbanos, que enfrentam poucas oportunidades de trabalho e renda.

Mas o que é o turismo de pesca?

O turismo de pesca é caracterizado pelo deslocamento de pessoas em busca de pesca por lazer, em que o pescador realiza a pesca recreativa. Nesse universo, a cada ano, cresce o número de adeptos da pesca esportiva — em que se devolve os peixes ao meio ambiente após a fisgada. De acordo com o Ministério do Turismo, o turismo de pesca envolve as “atividades turísticas decorrentes da pesca amadora”, que se distingue da pesca profissional por não ter fins comerciais, científicos ou de subsistência. A pesca pode ocorrer em diferentes ambientes, como águas interiores, continentais, mar territorial, plataforma continental e alto-mar, além de modalidades variadas (pesca de barranco, arremesso, corrico ou trolling, rodada, fly fishing e subaquática). Cada ambiente e modalidade exige equipamentos e habilidades específicas.

Essa modalidade, que valoriza a experiência da pesca em si, tem se expandido por diversas regiões do Brasil. Ela começou a se desenvolver no Pantanal, mas atualmente é uma realidade em todo o território, do Norte ao Sul. No Norte, a bacia amazônica é famosa pela pesca do tucunaré-açu. No Sul e Sudeste, os reservatórios de usinas hidrelétricas se tornaram locais ideais para a prática. No litoral do Rio de Janeiro à Bahia, a pesca em alto-mar, especialmente dos marlins, também atrai muitos turistas. Esses destinos contribuem significativamente para o turismo e trazem benefícios econômicos às comunidades locais, mas há outros polos se consolidando, como as comunidades ribeirinhas do Rio São Francisco.

Em todos esses destinos, a atividade está profundamente ligada ao conceito de “economia da experiência”, ou seja, a busca por vivências diferenciadas e únicas.

Condutores especializados têm papel central nessa experiência turística, criando um elo importante entre os visitantes e o ambiente natural. Eles lideram expedições, compartilham técnicas de pesca, apresentam a biodiversidade local e enriquecem a viagem com histórias e conhecimentos sobre a região, proporcionando um contato autêntico com a cultura local.

Desenvolvimento regional e o Projeto Beira Rio

Guia Bill, de Três Marias (MG), relata aumento do número de famílias interessadas na atividade de pesca. Foto: Arquivo pessoal.

O turismo de pesca, portanto, possui grande capacidade de dinamizar e humanizar economias locais, especialmente em áreas com escassas oportunidades de desenvolvimento econômico, promovendo inclusão produtiva e geração de renda. Um exemplo notável é o Projeto Beira Rio, implementado pela Turismo 360 em São Gonçalo do Abaeté e Três Marias, em Minas Gerais, entre 2018 e 2024. O projeto incluiu o planejamento e a implementação de ações para fortalecer a pesca e promover a sustentabilidade da atividade turística. A iniciativa buscou transformar a prática comum dos visitantes que buscavam retirar os peixes do rio, deixando poucos benefícios para a economia local. O foco foi promover a pesca esportiva, com ênfase na conservação dos ecossistemas e na valorização da cultura local.

Para consolidar o turismo de pesca, o Projeto Beira Rio investiu na qualificação das experiências e na diversificação da oferta turística. A estratégia visava atrair tanto pescadores experientes quanto outros públicos, como famílias e turistas que buscavam desfrutar da natureza, observar a fauna local e vivenciar a cultura ribeirinha. Foram propostas atividades complementares à pesca, como trilhas ecológicas, cachoeiras, rodas culturais, passeios de barco e vivências gastronômicas, com o intuito de ampliar o leque de atrativos e agregar maior valor ao turismo.

Integração de atividades e resultados econômicos

A integração da pesca com outras atividades, como passeios náuticos com piqueniques ao pôr do sol e experiências de imersão na natureza, voltadas para os acompanhantes dos pescadores, contribuiu para o aumento do impacto econômico do turismo na região. Dados da Turismo 360 revelam um crescimento de 125% no gasto médio dos turistas entre 2019 e 2024, além de um aumento no número de famílias que visitam o destino, demonstrando o sucesso da estratégia de diversificação. Durante esse período, foram observadas outras mudanças positivas e concretas na região, na comunidade e na própria atividade turística. Além da diversificação e qualificação da oferta, destaca-se o maior protagonismo dos empreendedores locais, o fortalecimento da economia criativa e a ampliação das estratégias de promoção e comercialização dos serviços turísticos.

Antes do projeto, a pesca já não atraía mais os mais jovens, que deixavam o território em busca de oportunidades em outros setores. Com o fortalecimento da pesca, muitos jovens retornaram e já é possível ver uma nova geração de condutores atuando com o turismo.

O turismo de pesca esportiva exemplifica o potencial de atividades de nicho para impulsionar o desenvolvimento regional de forma sustentável. A combinação de planejamento técnico, valorização dos recursos naturais e culturais e criatividade na oferta de experiências possibilita a criação de um produto turístico diferenciado, que gera renda, fortalece a identidade cultural e torna os destinos mais atrativos e competitivos.

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Descubra como o projeto Beira Rio transformou o turismo de Pesca em Três Marias e São Gonçalo do Abaeté