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A cada ano, o Dia Mundial do Turismo nos instiga a avaliar a performance e projeções do setor, analisar tendências e, principalmente, refletir sobre como o turismo pode transformar para melhor a realidade dos territórios onde ele existe.  

Nesse momento, em que ainda tentamos compreender todos os efeitos da epidemia mundial no setor, existem algumas sinalizações que são bem evidentes no turismo. Especialmente no pós-pandemia, a tendência de busca por espaços naturais e a conexão com a natureza e bem estar – que já eram apontadas como tendências mesmo antes da COVID19 – se acelerou. A customização dos serviços, em oposição à massificação, é também uma realidade. Os serviços se tornam experiências e o imaterial e o autêntico ganham cada vez mais peso para as pessoas: as viagens se despontam como ferramenta de conhecimento, conexão e transformação.

Além disso, com os eventos climáticos que se intensificam em todo o mundo e as consequências do overtourism em alguns locais, é notado também um crescimento da preocupação socioambiental em relação aos limites do turismo. Isso se reflete, por exemplo, na preferência de destinos, produtos e equipamentos que assumem – com transparência – compromissos em relação à crise global, que oferecem vivências autênticas e contribuem efetivamente com a qualidade de vida das populações locais.

Turismo Regenerativo

 

Gosto muito de um artigo do Professor Elimar Nascimento, do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (CDS/UnB), que fala que a sustentabilidade já não é mais suficiente. É necessário avançar para a regeneração de ambientes e territórios. Trata-se de um conceito complexo mas, de maneira simplista, a regeneração envolve uma postura proativa de transformação e não apenas de minimização dos impactos atuais.

Segundo o Fórum Econômico Mundial, o turismo representa mais de 10% das emissões globais de gases de efeito estufa. É fundamental uma evolução na configuração do setor, sobretudo, no que se refere ao uso de combustíveis fósseis para deslocamento (que é a base principal para que se tenha turismo).

É possível, porém, que o turismo seja uma importante ferramenta para a regeneração de um território, uma vez que pode contribuir com aspectos como a conservação e reflorestamento de áreas naturais e o resgate de saberes tradicionais. Pode ainda ser um instrumento de sensibilização, conscientização e educação de pessoas, ampliando sua visão de mundo e sua relação com a natureza e as pessoas de outros contextos culturais. Acredito que o turismo pode ser ainda um poderoso recurso para restaurar relações harmoniosas e recíprocas entre os humanos e a natureza e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS) como meta

Com relação aos ODS da ONU, o setor do turismo tem contribuições claras. Ainda que o turismo seja mencionado, explicitamente, em metas relacionadas a três Objetivos (8- Trabalho decente e crescimento econômico; 12- Consumo e Produção Responsáveis e 14- Vida na Água), o alcance da atividade pode contribuir direta ou indiretamente com o todo o conjunto de objetivos estabelecidos. Por exemplo, o turismo pode fortalecer a redução de pobreza (objetivo 1), uma vez que cria oportunidades e pode ser uma alternativa de geração de renda extra para diversos públicos (produtores rurais, artesãos, comunidades tradicionais, etc). O mesmo vale para a redução de desigualdades (objetivo 10). O turismo já contribui e pode seguir apoiando a igualdade de gênero (objetivo 5), na medida em que é um dos setores com a maior porcentagem de mulheres empregadas ou empreendedoras. A atividade é ainda um reconhecido instrumento capaz de promover a tolerância e compreensão entre diferentes culturas e religiões (objetivo 16). Esses são apenas alguns exemplos.

A contribuição da Turismo 360 

Neste Dia Mundial do Turismo, a Turismo 360 celebra 13 anos de história e ficamos felizes em  constatar que temos contribuído para melhorar o impacto da atividade no país, diante dos desafios socioeconômicos e ambientais que vivenciamos. Na nossa visão, é importante que um território tenha as rédeas do seu desenvolvimento turístico e trabalhe para que a atividade gere benefícios. Para isso, a elaboração de um planejamento com um caminho intencional para a atividade é fundamental. E, em se tratando de um setor complexo e multissetorial, este planejamento demanda um esforço conjunto de diferentes atores e áreas relacionadas: é preciso que os diferentes setores ligados ao turismo caminhem alinhados e nosso papel é escutar e construir coletivamente esse caminho. 

Consideramos também fundamental que a comunidade local seja protagonista do desenvolvimento do turismo e que seja a principal beneficiária dos seus ganhos. Trabalhamos ainda para que o turismo seja uma ferramenta de transformação dos territórios e promova a regeneração e a conservação de paisagens, comunidades ou lugares marginalizados. 

Nesse aniversário nós reforçamos nosso compromisso com um modelo de turismo mais racional e sustentável. Durante o evento One Planet Network, promovido pela ONU no Rio De Janeiro (RJ) entre os dias 12 e 13 de setembro, a Turismo 360 assinou o Acordo de Glasgow, que se refere ao comprometimento do setor do turismo de cortar as emissões de dióxido de carbono pela metade até 2030. Além disso, firmamos nosso compromisso com a iniciativa de redução do plástico de uso único no turismo: a Global Tourism Plastics Initiative.

Que venham novos ciclos de trabalho igualmente cheios de compromisso, propósito com o futuro do turismo.

Isabela Sette é mestre em Turismo pela USP, possui especialização em Gestão Pública e Turismo e Desenvolvimento Sustentável. É sócia e consultora da Turismo 360 Consultoria e atua em projetos diversos ligados ao planejamento e desenvolvimento turístico.