Há cerca de três décadas, a revolução digital ganhava novos contornos, acelerando a transição do mundo analógico para o digital com a popularização dos smartphones. Esses dispositivos inauguraram uma fase de inovações que, inicialmente, sequer vislumbrávamos. No universo do turismo, as transformações digitais em curso nessa época causaram um misto de hesitação e deslumbramento, ampliando o acesso aos Sistemas Globais de Distribuição (GDS) e novas plataformas de comercialização que incluem – uma vasta gama de reservas: transporte, hospedagem, experiências e eventos. Esses sistemas viabilizaram estratégias de monitoramento cruciais para o setor, mas, ao mesmo tempo, reconfiguravam processos e criavam novas demandas para as empresas da área.
Hoje, os Observatórios Digitais de Turismo, aliados à inteligência artificial, representam um novo marco nesse processo contínuo de transformação, criando oportunidades incríveis para os atores do setor que souberem aliar tecnologia, criatividade e estratégia comercial. Há algo, porém, que sempre se repete nas diferentes fases da revolução digital: a capacidade de entender e reagir às mudanças rapidamente é crucial para a perenidade de qualquer atividade, em qualquer época. Como bem observou Darwin, não é o mais forte que sobrevive, mas sim aquele que melhor se adapta. No setor turístico, essa adaptação passa, invariavelmente, pela Inteligência de Dados.

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Gestão de dados vivos
Vale lembrar a máxima de que “não se gerencia o que não se mede”, ecoa fortemente no nosso universo. Os dados isolados, porém, são apenas o primeiro passo para se alcançar uma inteligência comercial que explore todo o potencial das tecnologias atuais em favor do fortalecimento de destinos. Por isso, é essencial transformar esses dados em informação e, posteriormente, em conhecimento. Como destaca Mauro Coutinho, sócio e líder de projetos da Turismo 360: “Melhor do que saber alguma informação específica, é saber como ela evoluiu ao longo do tempo e como se relaciona com outros aspectos da realidade que conseguimos observar”. Para o gestor, é essa conexão que nos leva à sabedoria, permitindo uma gestão estratégica dos destinos.
Nesse contexto, os Observatórios Digitais de Turismo da Turismo 360 são ferramentas essenciais que funcionam como verdadeiros bancos de dados vivos, monitorando indicadores para abastecer o poder público e a iniciativa privada com dados e boletins, contendo análises de informações estratégicas. Essa solução foi desenvolvida com a parceria tecnológica da Bebook e permite a coleta de dados de diversas fontes, incluindo fontes abertas (como dados de emprego formal em turismo, Cadastur e TripAdvisor), aquisição de dados específicos de turismo, pesquisas de demanda turística, informações da hotelaria, dados do Google (buscas de destinos), dados macroeconômicos (PIB municipal e população) e bases de dados oficiais. As buscas no Google, por exemplo, são um conjunto de dados importantíssimo sobre a psique humana, revelando tendências e interesses que se transformam ao longo do tempo. Para dados de telefonia móvel, a Turismo 360 estabeleceu uma parceria comercial pioneira com a Claro, para a solução Claro Geodata Turismo, desenvolvida em parceria com a Kido Dynamics para apresentar a movimentação de turistas e pessoas a partir dos acessos aos seus telefones.
O poder dos dados de telefonia móvel
João Del Nero, diretor de Data Analytics da Claro Empresas, explica como funciona a ferramenta: “Os dados utilizados têm origem na base de serviços de telefonia móvel e se referem às conexões dos celulares nas antenas da rede da operadora. Esses dados, trabalhados de forma anonimizada, agregada e estatística, produzem informações relevantes para o entendimento do fluxo de movimentação turística, o que é essencial para os gestores”.
Na prática, a Claro Geodata permite o acesso simplificado e atualizado da movimentação turística de um destino, revelando o volume de visitantes, sua origem, tempo de permanência na cidade e atrativos turísticos visitados. Del Nero enfatiza a relevância estatística dessas informações: “O volume e a distribuição amostral de dados de telefonia móvel são representativos, o que garante uma alta relevância estatística sobre o universo analisado, atingindo um grau de confiança de mais de 95% nas análises estatísticas”. Ele avalia que essa capacidade de monitorar o fluxo turístico com precisão é fundamental para o planejamento e a projeção de cenários futuros.
O papel humano na transformação de dados em Inteligência Comercial

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Ter um volume imenso de dados, porém, não é suficiente, afinal, quantidade, de fato, não é qualidade. Por isso, é preciso ter as informações certas para utilizá-las no posicionamento digital dos destinos, na personalização das experiências, na gestão do fluxo turístico e na criação de estratégias de marketing e comercialização para diferentes canais – não apenas os digitais.
Para analisar todos esses dados e transformá-los em insights e direcionamento para o planejamento turístico, portanto, a Turismo 360 atualmente oferece o serviço de Inteligência Comercial, que integra os Observatórios Digitais de Turismo a outras etapas de posicionamento e comercialização dos destinos. Isso só é possível por meio das parcerias sólidas com grandes players do mercado de tecnologia e da vasta experiência da Consultoria no planejamento, estruturação e construção de soluções para gestão de destinos.
Embora a tecnologia e a coleta de dados sejam avançadas, a inteligência de dados no turismo não é um processo automático. É fundamental que haja uma equipe dedicada para analisar, refletir e interpretar os dados. Como alerta Mauro Coutinho: “Os observatórios não são, por si só, capazes de tomar decisões. O que eu quero dizer com isso? Que, independente do conjunto de dados que eu tenho, eu só vou ter inteligência se eu parar para sentar, refletir e analisar sobre aquele dado”. Ou seja, a IA pode automatizar tarefas manuais e acelerar a análise de dados, mas a gestão humana continua sendo insubstituível na tomada de decisões estratégicas.
Apesar dos desafios, o cenário nos parece claro: é possível construir estratégias comerciais usando a tecnologia como um catalisador para a competitividade e sustentabilidade dos destinos turísticos. É nisso que acreditamos. Ao investir em inteligência de dados, os destinos podem entender melhor seus visitantes, otimizar sua oferta, planejar eventos estrategicamente e, em última análise, transformar o turismo em um verdadeiro motor de desenvolvimento econômico e social.