A Inteligência Artificial (IA) se consolidou como o primeiro ponto de contato no planejamento de viagens, oferecendo desde inspiração inicial até roteiros detalhados e informações cruciais sobre destinos. Essa realidade transforma o cenário do turismo, apresentando tanto desafios quanto oportunidades para gestores e formuladores de políticas públicas.
Agências de turismo, companhias aéreas, hotéis e locadoras de automóveis também já usam a IA e os chamados chatbots (software que simula conversas com humanos) para criar conteúdo de marketing personalizado e aprimorar o atendimento ao cliente via agentes virtuais.
A crescente dependência da IA para o planejamento de viagens exige uma compreensão profunda de como esses sistemas processam e priorizam conteúdos. A ausência de uma estratégia de influência ativa pode levar à disseminação de informações incompletas ou imprecisas, impactando negativamente a percepção de um destino. É aqui que entra o papel estratégico e insubstituível dos gestores de turismo.
Como explica Carina Oiticica, idealizadora da agência Yellow Kite e especialista em marketing e comunicação, a IA tem se tornado uma aliada poderosa no setor de turismo. No entanto, para que ela seja verdadeiramente eficaz, a alimentação com dados oficiais e relevantes é indispensável. “Para que a IA realmente resolva as dúvidas dos viajantes e ofereça recomendações úteis, é indispensável alimentá-la com dados oficiais e relevantes”, salienta Carina. Essa medida garante que o turista receba informações confiáveis, contribuindo para uma jornada mais segura, bem planejada e agradável.
A Inteligência Artificial Generativa: o que você precisa saber
A Inteligência Artificial (IA) generativa é excelente na criação de respostas de texto baseadas em modelos de linguagem grandes (LLMs), em que a IA é treinada em um amplo número de pontos de dados. A boa notícia é que o texto gerado geralmente é fácil de ler e fornece respostas detalhadas que são amplamente aplicáveis às perguntas feitas ao software, chamadas de prompts.
A má notícia é que a informação utilizada para gerar a resposta é limitada à informação usada para treinar a IA, muitas vezes um LLM generalizado. Os dados do LLM podem estar desatualizados há semanas, meses ou anos e, em um chatbot de IA corporativo, podem não incluir informações específicas sobre os produtos ou serviços da organização. Isso pode levar a respostas incorretas que prejudicam a confiança na tecnologia entre clientes e funcionários.
Nesse contexto, surge a tecnologia de Geração Aumentada de Recuperação (RAG). A RAG fornece uma maneira de otimizar o resultado de um LLM com informações direcionadas sem modificar o próprio modelo subjacente; as informações direcionadas podem ser mais atualizadas do que o LLM, bem como serem específicas para uma determinada organização e setor. Isso significa que o sistema de IA generativa pode fornecer respostas mais contextualmente apropriadas às solicitações, bem como basear essas respostas em dados extremamente atuais.
Geração Aumentada de Recuperação (RAG): A Chave para a Confiabilidade
Ou seja, a tecnologia RAG é um diferencial fundamental para os gestores de turismo, pois esse recurso permite que a IA vá além de seus dados internos e consulte fontes externas em tempo real. Isso inclui informações oficiais sobre a infraestrutura local, serviços disponíveis, eventos e condições atualizadas dos destinos. Com o RAG, a IA oferece respostas mais completas, precisas e, acima de tudo, úteis para os viajantes.
Carina Oiticica destaca o impacto direto dessa solução: “Com isso, empresas do setor e destinos turísticos ganham uma nova ferramenta para entregar informações confiáveis e atualizadas, diretamente ao turista, com transparência e assertividade. Isso não apenas melhora a experiência de viagem, como também fortalece a relação de confiança entre o usuário e o destino”.
Para um gestor público que atua com turismo, o RAG é uma ferramenta poderosa para garantir que os turistas tenham acesso a informações confiáveis, atualizadas e personalizadas. Em vez de o turista precisar vasculhar dezenas de sites, folhetos desatualizados ou depender de informações boca a boca, o RAG pode centralizar e contextualizar o conhecimento turístico.
Aprimorando a IA no Turismo
Imagine uma grande cidade turística que quer oferecer aos visitantes e profissionais do setor um chatbot interativo para responder a perguntas sobre atrações, história, gastronomia, eventos e opções de hospedagem. Um Modelo de Linguagem Grande (LLM), como o ChatGPT, poderia dar informações gerais sobre a história da cidade ou descrever um ponto turístico famoso. No entanto, ele não conseguiria dizer qual é o restaurante com a melhor vista para o pôr do sol hoje, quais exposições estão em cartaz nesta semana ou as últimas atualizações sobre um festival específico, simplesmente porque essas informações não estavam presentes nos dados usados para treinar o LLM, mas a RAG permite que a IA generativa “ingira” essas informações adicionais.
Ou seja, quando você pergunta ao chatbot sobre a cidade, ele pode consultar o LLM para obter o conhecimento geral e, ao mesmo tempo, buscar nas bases de dados específicas as informações mais recentes, contextuais e precisas. Por exemplo, se você perguntar sobre “onde comer um prato típico da região”, o chatbot pode buscar no banco de dados de restaurantes locais e dar opções atualizadas com base nas avaliações recentes. Veja abaixo como um gestor público do turismo pode influenciar e implementar o RAG para esse fim.
Curadoria e Organização de Dados Turísticos Confiáveis

Foto: Embratur
O ponto de partida do RAG são os dados. O gestor deve ser o guardião da qualidade e da abrangência dessas informações.
- Mapear Fontes Oficiais e Confiáveis: Identificar todas as fontes de informação turística oficiais: secretarias de turismo (municipais, estaduais, federal), órgãos reguladores de transportes, associações de hotéis e restaurantes, museus, parques, guias turísticos certificados, etc.
- Centralizar e Padronizar Dados: Trabalhar para criar um repositório centralizado de dados sobre atrações, hospedagem, gastronomia, eventos, transporte, segurança, regras locais, história e cultura. É crucial padronizar formatos e categorias para que o RAG possa “entender” e relacionar as informações.
- Garantir a Atualização Constante: Estabelecer processos claros para a atualização frequente das informações, especialmente aquelas que mudam rapidamente, como horários de funcionamento, preços de ingressos, eventos sazonais, condições climáticas ou avisos de segurança. Isso pode envolver parcerias com operadores turísticos e estabelecimentos.
- Digitalização e Acessibilidade: Priorizar a digitalização de todo o material turístico relevante (mapas, folhetos, históricos) para que esteja disponível em formato digital e possa ser processado pelo RAG.
Acessibilidade e experiência aprimorada
A eficácia da IA no turismo também depende de sua acessibilidade. Integrá-la em canais já amplamente utilizados pelos brasileiros, como o WhatsApp, é uma estratégia inteligente. Essa abordagem evita a necessidade de baixar novos aplicativos, reduz custos de desenvolvimento e infraestrutura tecnológica, e amplia significativamente o alcance das informações oficiais. A facilidade de acesso é vital para que o turista possa obter respostas rápidas e confiáveis a qualquer momento.
O Futuro Colaborativo: Gestão e IA
A Inteligência Artificial já se mostra uma ferramenta valiosa para planejar viagens, desde a sugestão de roteiros personalizados até a organização de detalhes logísticos, como a compra de passagens e reservas de hospedagem. Ferramentas como o Bard, ChatGPT, Tripadvisor e Kayak já exploram esse potencial, oferecendo a personalização que o viajante moderno busca.
No entanto, para que o potencial da IA seja plenamente realizado, gestores de turismo, secretários e responsáveis por políticas públicas precisam assumir um papel ativo na curadoria de dados. Ao influenciar ativamente o conteúdo que a IA acessa e divulga, eles garantem que a experiência do turista seja pautada pela confiança, pela precisão e pela excelência, impulsionando o desenvolvimento sustentável do turismo. A colaboração entre a inteligência humana e artificial é o caminho para um futuro do turismo mais autêntico e enriquecedor.