Dentre as múltiplas oportunidades aportadas pela estratégia de regionalização, é preciso ter
clareza sobre qual é o papel estratégico que as instâncias regionais irão desempenhar na política estadual e sua execução, a partir do que se define o grau de autonomia, funções etc. Essa função pode e deve ser dinâmica, evoluir ao longo do tempo, à medida que tanto a política como as IGRs amadurecem.
A existência de uma base de confiança e a percepção de entrega de valor ao todo por todas e cada uma das partes envolvidas, são fundamentais para que haja uma colaboração efetiva: as IGRs colaboram com a IE (instância estadual) à medida que percebem valor e comprometimento nas atuações/projetos do Governo do Estado. Da mesma forma, os empresários passam a integrar e aportar recursos financeiros e de tempo quando percebem valor na atuação e propósito da IGR e dos projetos estaduais, e assim por diante.
Falo a seguir sobre cinco boas práticas de regionalização do turismo aplicadas em outros países que podem inspirar iniciativas aqui no Brasil:
1) Visão e gestão ecossistêmica do turismo
A visão de unidade, sistêmica e sistema de turismo adaptativo são fatores que permitem manter a qualidade da experiência turística, a satisfação dos visitantes e da comunidade. A governança se dá por meio de cooperações horizontais e verticais, se mantém adaptável à evolução interna e externa, mas mantém-se alinhada aos objetivos estratégicos da política do turismo.
Os modelos são construídos dentro de uma visão sistêmica/ecossistêmica em que se definem visão, valores e objetivos coletivos, atores que interagem, seus papéis e âmbitos de atuação, mas principalmente, modelos e ferramentas de relacionamento, cooperação, convergência e complementaridade.
Um bom exemplo para falar aqui é a Costa Rica, líder em turismo sustentável, que se tornou referência global pela abertura e modelo de turismo comprometido com a sustentabilidade e altos níveis de excelência. Cada vez mais a gestão turística do país tem atuado no sentido de manter sua competitividade alinhado ao propósito de gerar crescimento econômico real e qualitativo, desenvolvimento humano e capital social, mantendo a qualidade ambiental. Isso perpassa pelo aproveitamento turístico adequado de áreas de natureza protegida e das zonas costeiras.
Do ponto de vista da gestão estratégica, o turismo da Costa Rica é tratado sob uma visão de unidade, em que se entende que sua competitividade deriva de uma imagem integral, para a qual se somam as características, atrativos e produtos de todas as suas regiões turísticas.
2) Empreendedorismo convertido em oferta variada de produtos e experiências conscientes e exclusivas
Falando em Estratégia de Produtos e Ofertas, o empreendedorismo na Costa Rica é convertido em oferta variada de produtos e experiências conscientes e exclusivas. O país tem uma política de diversificação que contempla expor produtos turísticos de alto valor intrínseco e bem-posicionados no mercado, além de estruturar e qualificar novas propostas que agregam valor ao turismo com base nos recursos culturais.
Neste case inspirador, a combinação com outros segmentos e atividades permite múltiplas propostas de viagem, uma proposta de sol e praia renovada, assim como a integração com outras regiões em roteiros mais longos e temáticos.
3) Suporte para o desenvolvimento e sustentabilidade de pequenos negócios
Para falar deste tópico de boas práticas, vamos “voar” da Costa Rica para a Austrália…
O estado australiano de Victoria tem a mais alta densidade demográfica do país. É um destino vibrante e multicultural, além de um polo de criatividade, de educação e econômico bastante importante, oferecendo alta qualidade de vida. A concentração populacional – e do turismo – ocorre especialmente na área metropolitana de Melbourne, a capital administrativa e financeira, bem como um hub sociocultural e turístico.
A oferta turística, por sua vez, conta com uma gama diversificada de produtos espalhados por 12 regiões turísticas e inclui: eventos (teatro, artes, exposições, gastronômicos, festivais de música, eventos esportivos e corporativos), atividades de aventura e vida ao ar livre (no interior e na costa), de natureza e vida selvagem, de esportes, de arte e cultura, étnico (aborígene), de spa e bem-estar, compras e moda, com diversas opções de tours, road trips e Itinerários segmentados.
Como suporte para o desenvolvimento e sustentabilidade de pequenos negócios, o Governo do Estado de Victoria criou a plataforma Business Victoria, um recurso online abrangente projetado para ajudar a iniciar, administrar e expandir os negócios locais. No site é possível: acessar informações sobre questões-chave para empresas, tirar dúvidas, identificar as licenças e regulamentos governamentais, ter acesso a guias interativos personalizados, encontrar apoio financeiro, aconselhamento e formação.
Genial, não é mesmo? Vale a pena a visita e inspiração para iniciativas similares aqui no Brasil.
4) Acompanhamento e aproximação do setor empresarial, gerando base de dados e tecnologia de conhecimento para o turismo
Agora vamos para a Itália?
Dentre os clusters turísticos do interior da Toscana, Chianti é composto por apenas seis comunas: Greve de Chianti, Barberino Tavarnelle, Castellina in Chianti, Castelnuovo Berardenga, Radda in Chianti e San Casciano Val di Pesa. Em uma posição privilegiada entre as cidades de Florença e Siena, é reconhecidamente uma área que desperta crescente interesse turístico por sua natureza, ruralidade, história e cultura, contadas por suas vilas medievais e paisagens culturais, pelo circuito de arte moderna (Parque de Esculturas), pelas rotas de trekking e ciclísticas, assim como pelos eventos esportivos emblemáticos como a Eroica Vintage Race Bike. E ainda pela gastronomia, vinhos e outros produtos típicos que, por sua vez, fortalecem a marca desse território enquanto sustentam sua economia, em simbiose com o turismo.
É ao redor das sinergias e iniciativas de cooperação (formalizadas) que se desenvolve e aprimora a inteligência coletiva e capital social que favorecem o desenvolvimento e a qualidade do turismo na Toscana e em Chianti, assim como a geração de valor no longo prazo.
O local tem um Sistema e Estrutura de Governança e Gestão do Turismo que pauta-se pela colaboração horizontal e vertical, tanto dentro do setor turístico como intersetorial e nos diversos níveis, sendo essa cultura a base das práticas do dia a dia e dos projetos de gestão democrática e participativa. As organizações da sociedade civil geram diversos inputs para o turismo e, em colaboração com o setor público, participam da gestão da atividade e têm papel na fiscalização e na manutenção da alta qualidade dos serviços.
Esse acompanhamento e aproximação do setor empresarial, gera base de dados e tecnologia de conhecimento para o turismo.
5) Ecossistema de marcas e digital
Ainda falando sobre Chianti, mas agora sob o aspecto de Estratégia e Estrutura de Marketing, os territórios têm práticas co-desenhadas entre os níveis estadual e local, envolvendo também o setor público e privado, com o apoio de ferramentas tecnológicas que facilitam o trabalho colaborativo, a fiscalização da TPT e a ampliação da inteligência e conhecimento coletivos.
Eles têm ainda um ecossistema de marcas e digital, suporte e preparação técnica dos AT por meio dos Laboratórios Digitais e de workshops e mentorias online individualizadas a cada AT. Além disso, o storytelling é reconhecidamente uma base importante de comunicação, contando com diversas ferramentas e projetos que fazem uma curadoria de histórias e curiosidades para além dos grandes circuitos turísticos.
Esperamos que esses cases de regionalização do turismo possam de fato inspirar boas práticas para o setor como foi o caso deste projeto. Continue nos acompanhando por aqui e pelas mídias sociais para mais textos como esse.
Por Natalia Cordeiro.