O planejamento turístico local é o primeiro e mais importante passo para estruturação de qualquer município ou destino. Por quê? Simplesmente porque é nesse instrumento que se registram dois pontos fundamentais: o estado atual do turismo no território e também o futuro desejado na região.
É a partir dele, também, que é possível definir as ações necessárias para desenvolver potencialidades, aprimorar produtos, profissionalizar as operações turísticas e inserir o município no Mapa do Turismo Brasileiro.
Além de uma exigência legal, desenvolver um plano de turismo é uma tarefa muito desafiadora, muitas vezes difícil de ser colocada em prática por inúmeros motivos que vamos elencar a seguir. É importante dar o primeiro passo – e quando falamos de um plano estratégico, começamos sempre com o diagnóstico da realidade.
Neste texto, vamos apresentar como está o quadro atual do turismo em grande parte das cidades brasileiras. Vem com a gente!
O cenário atual
A realidade é que o Brasil, apesar de ser reconhecido como um dos países com maior diversidade de recursos naturais e culturais – com alto potencial turístico segundo o Índice de Competitividade Turística do Fórum Econômico Mundial -, ainda não reconhece o turismo com a importância que tem.
Mesmo que alguns destinos brasileiros tenham conseguido se organizar e avançar nestes planos, essa ainda é uma realidade bastante restrita. E, em geral, as políticas públicas voltadas ao setor não são capazes de transformar a realidade das pessoas, principalmente se considerarmos o tripé da sustentabilidade: econômico, social e ambiental.
E olha que o turismo pode ser um importante vetor de inclusão social e geração de empregos. Só para entender melhor essa importância social e econômica, a Organização Mundial do Turismo (OMT) publicou que a atividade foi responsável por 1 em cada 10 empregos no mundo, correspondendo a 7% das exportações mundiais e 30% das exportações de serviços em 2019. Isso, é claro, sem contar a contribuição intangível para a valorização da cultura local e conservação do meio ambiente.
Por que desenvolver um planejamento turístico no Brasil é algo complexo?
Se já é sabido que o turismo é, sim, uma ferramenta de desenvolvimento socioeconômico, por que não vemos os destinos aproveitarem sua potencialidade para aprimorar e estruturar, de forma responsável, suas operações turísticas?
Vale lembrar que o turismo acontece do micro para o macro, ou seja, a partir dos municípios é que a dinâmica começa. É claro que há diretrizes nacionais e um ecossistema gigante ao redor, mas tudo começa dentro de uma determinada zona distrital ou território.
É mais do que necessário se criar processos e planos bem elaborados, que agreguem uma visão profissional e estratégica. Aqui, nós podemos apontar pelo menos 3 desafios que os municípios e territórios possuem.
1- Falta do olhar externo
O primeiro e mais notável desafio que impacta no desenvolvimento do turismo local é a falta de um olhar externo, técnico e estratégico, para o turismo. Muitas vezes as pessoas que estão atuando dentro do destino acabam se envolvendo tanto no dia a dia que acabam não conseguindo ter uma visão externa da região em que estão inseridas.
Profissionais com experiência, e que veem a realidade com outro olhar, possuem legitimidade para propor caminhos diferentes – e até para para apontar soluções diferentes, que tragam inovação e até um frescor para o turismo local, com experiências vindas de outras regiões.
Outro fator fundamental em relação ao olhar externo é a independência: uma pessoa externa pode apresentar situações e sugestões de formas diferentes de quem está no dia a dia. E o resultado disso tende a ser sempre positivo.
É importante sempre lembrar que a atividade turística está inserida em um contexto amplo. E que ela é impactada por dezenas de fatores: acesso, comunicação, segurança, saúde, meio ambiente, ambiente de negócios, qualificação profissional, entre outros. Nesse sentido, um olhar de quem está de fora pode ser o diferencial que estava faltando.
A qualificação para a gestão de destinos é muito específica e a tarefa de montar um planejamento turístico não é nada simples: exige planejamento estratégico em médio e longo prazo, diagnóstico, priorização, implementação das ações de curto prazo e avaliação constante.
Elaborar um plano de turismo que converse e tenha conexões com os aspectos de singularidades locais é um desafio. Por isso, quanto mais pessoas competentes envolvidas, melhor – sejam elas de dentro do destino ou que tragam esse mais do que bem-vindo olhar externo.
2- Faltam recursos destinados à área
Outro aspecto que é possível observar no cenário do turismo brasileiro é a falta de recursos. É comum, por conta da realidade do país , que a pasta seja integrada a outras áreas, como esporte, cultura, etc.
E assim chegamos a outro desafio: recursos escassos, poucas pessoas envolvidas e, às vezes, sem o foco necessário para o desenvolvimento de um planejamento turístico efetivo. Em uma situação como esta, o próprio destino acaba perdendo a força econômia e social transformadora que o turismo tem.
Especialmente porque o investimento e o orçamento disponíveis para elaborar e executar um planejamento turístico efetivo e perene é, muitas vezes, insuficiente para poder transformar a realidade local. Perde o município, perdem os empreendedores e empreendedoras locais e perdem turistas que poderiam movimentar a economia.
3- Falta integração com a comunidade local
Por fim, o turismo, como dissemos, é algo que acontece de dentro do município para fora. Logo, muito mais do que fazer sentido, é crucial que atores locais, comunidade e empreendedores da cadeia de produção associada ao turismo participem da discussão e sejam inseridos no processo do planejamento turístico.
Este é mais um ponto de atenção: é importante ampliar a conexão e a integração com a comunidade. Afinal, é relevante escutar quem vive, respira e está na ponta das operações turísticas locais. Desta forma, a ligação entre sociedade civil e gestão pública torna-se mais eficaz e sem barreiras.
Na esfera municipal, os planos podem ser chamados de Plano Diretor de Turismo, Plano Municipal de Turismo ou Plano Estratégico de Desenvolvimento Turístico. Independentemente da nomenclatura utilizada, o objetivo é o mesmo: apresentar estratégias e ações para o desenvolvimento da atividade
Realizar este diagnóstico, aliado a um trabalho ativo para solucionar potenciais problemas, é o primeiro passo de um planejamento turístico. Exige envolvimento e conhecimento técnico sobre os diversos aspectos que envolvem a cadeia turística. E é fundamental manter-se fiel à cultura local e características singulares para, de tempos em tempos, aparar as arestas e redirecionar a rota.
Depois de apresentar o contexto e refletir sobre o cenário atual, no próximo texto vamos pontuar as soluções possíveis para atender a esses desafios encontrados dentro do segmento turístico no país.